28 novembro 2012

Voo da saudade




Para onde voaram os pássaros

Que moravam na minha janela

Agora que a chuva

Fez o ninho

Num recanto dela.

Não sei da escolha

Voar, ao encontro deles

Ou esperar

Vestindo-me de chuva

E dançar com ela
!
 
ilustração: vania medeiros
 

10 janeiro 2012

desperta(r)




Nem tanto o alvor da voz
Nem o timbre melodioso
Dos gemidos
Nem eu vencida
Se escrivã das letras
Que compõem a vontade
Duradoura
De ser luar em cada momento
Que me inventas lua
Contudo…perdida!




(tela Odette Itah)

03 agosto 2011

tenuidade

Coloco a porção certa
Do meu amor
Em cada canto
Da tua boca


Natura como desflorar
Um sol de girassóis

Também o teu ventre desfloro
Ébria do teu sal e floresta
E imploro
O incêndio dos teus beijos

E aí, desmaia a razão
Num turbilhão cego
De sentidos

E, do lume e do enleio
Quando zurzidos de fadiga
Os nossos corpos se calam


Coloco a porção certa
Do meu amor
Outra vez…
Em cada canto
Da tua boca

(tela de Djoma Djumabaeva)

12 abril 2011

(a)braço de rio

(carla campos)


Falam-me do encanto das garças

E eu recordo um rio

Indolente e perfumado

Desaguando no peito

A foz da tua boca


Rio que foge ao leito

No segredo das algas

Dorme comigo no mar


E antes que alvoreçam as garças

Já nós somos navio

Ao largo

Do nosso amor!

20 fevereiro 2011

nem mar...mas azul

Sentir-te

Na ambição fecunda

E infinita

Onde os afectos se debatem

No pulso de cada veia

Inquietantemente…

Enobrece a dádiva da ternura

Que dentro da pele se descobre

Teimosamente…

Não há terra, nem estrelas

Nem mar

Onde eu possa pousar

Essa dádiva

Serenamente…

Que não o teu corpo!

(tela de ana oliveira)

15 janeiro 2011

voo adentro

(Yolanda Botelho)
Anseio o instante
O assombro do encanto
Que me renasce constante
Em cada fiar de pranto

Porque quero tanto
Em turbilhão e desnorte
Não espero nem o entretanto
Que do amor, já tenho a sorte

Se amo…vou
Sem medida
Fosse pássaro que voou
Sem lágrimas de partida

04 dezembro 2010

espero as manhãs limpas




Como encontrar os teus lábios
Se é tão distante a palavra
Que os esconde
Sinto-os de saudade longa
Tragada …e sonho ficar perto.
Fluem pensamentos das horas
Que exaltámos fogos
E atenuámos rios
De tanto amor inundado.
Agora, neste silêncio escravo
Não és tu que encontro
E todos os dias findam…
E eu, no meu ensejo
Exulto as madrugadas
Para que sejam manhãs limpas
As que vierem contigo!
(tela de margusta loureiro)

02 outubro 2010

ao (meu) lado


Lado a lado
Em cada contorno
Da tua sombra
Serás um campo infinito para eu olhar
Nas delongas do tempo
De onde crescem as arvores
E as raízes.
Lado a lado,
Entrelaçamos vontades
De querer perpétuo
O desabrochar das flores

Aprendi a fala do amor
Não sei outra língua
E ao teu lado ,
Nem sequer sei balbuciar dor
Ou outra palavra que reste
Do bálsamo ou do prazer
De ao teu lado,
Ter esta insolente e arrebatada cor!
(tela de Olga Sotto)

15 agosto 2010

rumo de estrela lua

Nasceste do nada, ou de um esgar da terra
Depressa me divertiste os passos
Alegre me ensaiaste na brisa do vento
E desenhaste o rumo de estrela lua

Meu pequenino amor,
Audaz, guerreiro
Combatente das vozes vorazes
De maldizer famintas

Cobres -me com a palavra certa
Num consolo sereno, tão cálido
Que só as aguas tranquilas de estio
São capazes

E seguras, me fazem saber
De um pequenino amor
Que cresce e arrasta o rio
Desta paixão descoberta
(tela de Olga Sotto)

06 julho 2010

no lugar da lua




A medida do meu corpo
é um palmo do teu gemido

possante no deslumbramento

que faz fugaz o pensamento
e tão longo o beijo, vagueando no lugar da lua.
Onde o desejo incende
possuindo-te selvagem

e onde, só a minha nudez te transparece
como se fora eu luz na tua sombra,

numa dança muda do teu gesto
descrevendo cada rota de loucura!
(tela de olga sotto)

10 junho 2010

sentido único


Nego
a chama apagada
o pássaro sem asa
o cais sem barco
nego
o indivisível
a metamorfose
o ninho sem ovo
o céu sem azul
Nego
A vida ausente
Sem âmago de amor
Nego de tão perto a estrela distante
Cadente
De ser…eternamente amante!
(imagem: egon schiele)

17 maio 2010

uma cor



No calar da chuva

e no silêncio do vento

Há sempre um mar

Que corre para um lugar

De aconchego, quente

ardente

Corre para os braços

Do verde dos sargaços

Pintando dessa cor

Todo o sentido

do meu amor...!

(tela de Rosa Goulart)

28 abril 2010

fecundidade

Comungo da mesma razão
Das palavras entranhadas
E das mágoas que esqueço
Logo que o teu aceno
Me sucumbe a cólera.

Não escondo a dor dos muros
Sem horizonte,
Nem o sangue das lágrimas
Magentas e purpúreas
Que se desprendem sós

Tanto é o tempo, que sinto oco e órfão
Que nem sei da fecundidade das sílabas
Gerando
As noites urgentes,
Matrizes das nossas bocas
Onde a pele sua
-
Tacteando na frase nua
Escritos que não consigo apagar!


(tela de Olga Sotto)

28 março 2010

vestia o meu peito de rosas


Vestia o meu peito de rosas
pousava beijos nas bocas
e um trevo, era magia…

Despia meu ventre de prosas
num oceano de melodias
no encontro do sol, sorria…

Via no fundo do vento
um tesouro que enfeitava o céu
no sono que eu esculpia

Prendia meus olhos nos teus
com cores de carrossel
era um astro que explodia

Descobria o sentido das flores
vestindo o meu peito de rosas
e de prosas
me desp
ia…!
(imagem: Egon Schiele)

25 fevereiro 2010

amante de todos os poemas de amor


Como se abrissem janelas
e respirassem vento
ousam os olhos
a calma de um amante
de todos os poemas de amor

Deixem que me embale por eles
(os teus olhos)
Sabendo que na próxima aurora
Serão os meus
Clamando poemas de amor


Tão belos como castelos
onde moram as trovas
de um amor sem trono
amor plebeu…
que se entrega sem permuta
a um poema de amor

Sinto-te tango, arguto,
da dor e da raiva rasgada
sabor cidra que invejo
no suar das folhas
que te escrevem
poemas de amor!


(imagem: Olga Sotto)

07 fevereiro 2010

chamando o vento



Ama-me, sem que o meu silêncio te perturbe
Ouve-me no rastear do vento de palavras quentes
quando a minha voz te chama
Dá-me, jamais o que pedirei
enquanto for longe o render
da tua língua de fogo,
que me incendeia inteira
e donde teimosamente renasço...
e renasço!
Caminha sem o meu chão...
nas cinzas onde lentas,
morrem névoas amarguras
Colhe-me, em gomos de amor
antes que se decline
a firmeza do meu olhar!

17 janeiro 2010

trazia

Trazia braçados de ternura

e palavras despidas

para te pousar no colo


Queria enroscar-me no teu corpo

fazer desse instante

outra vez a nossa loucura


Trazia rasgos de vontade madura

e na boca a razão de um poema

para escrever com os teus dedos


Mas nas minhas mãos

foi um tempo ausente que restou


e, nos meus olhos...rasos

eram lágrimas que eu trazia...!
(imagem: Lucia M. Russo)

21 dezembro 2009

sublimação



As mãos de carícia
são as mãos do tempo
que se aprende a dar
e o momento...
é o tempo
que se desfolha
como poesia de amor!
fElIz NaTaL e Um AnO nOvO cHeIo De AmOr !

06 dezembro 2009

e n la c e



Não fujo de ti
que és melodia
toada de flautim
soprando o espanto

Denuncio-te, no desassossego do gesto
e nas trovas do meu encanto,
escuto-te como cascata
rasgando fragas.
Enlaço-te como intrínseca casca
da minha árvore e decoro-te,
soletrando carícias de um tempo longo.
Descubro-te na dilecção dos afagos
quando pernoito em ti
tranquilamente...!

(imagem:helena abreu)

28 novembro 2009

a traição de psiquê



Uma colectânea de poesia onde participo em co-autoria, cuja apresentação vai ter lugar no próximo dia 5 de Dezembro às 16 horas na Biblioteca Municipal de Gondomar.

O lançamento do livro decorrerá no âmbito de uma tertúlia de poesia "Do Amor e do Erotismo" organizada pela ARGO - Associação Artística de Gondomar, entidade promotora da IV Prémio Nacional de Arte Erótica em parceria com a Lugar da Palavra Editora.


(capa e foto da autoria de designer Aurélio Mesquita)


Estão desde já convidados!

15 novembro 2009

alquimia



Podias ser o meu azul

ou carne incendiada por alquimia

impulso de pele

magia...


Podia ser o sol

urdidura do desejo

desvairando um beijo

pois podia...


Podia ser felina a noite

açoitada de ternura

que eu, no teu azul

enlouquecia...!
(imagem: diamantino silva)

01 novembro 2009

poesia dos corpos



Dispo-me de tudo e da razão

mesmo no fingir subtil

a que me obrigas,

latejam todos os gestos

nos sorrisos ruidosos do corpo,

quando os meus seios roçam o teu peito.

De alma fico nua...

no aperto dos teus abraços

e no prazer crescente e ignóbil,

quando, a tua boca me foge,

em sussurros vernáculos

salivando nos lóbulos,

os beijos quentes que nos damos.

Inquietante corrente, galgando todas as margens,

no perfeito movimento do teu corpo

eroticamente sobre o meu,

descobrindo as fontes

lambidas no perfume de vénus,

enquanto...

a pele pálida da madrugada

vagarosamente se muta crisálida!

17 outubro 2009

poema de sal


Nasço

na raiz translúcida,

na seiva e na sombra,

na folha branca de espuma

me desfaço...,

e na sal-gema

do choro e do grito,

no silêncio que inflama,

nessa alva cama...

faço-te poema!


(imagem:zea jara)

03 outubro 2009

os meus (teus) passos



Cobre-me um véu
feito de fios de paixão

e nos meus pés nús,
alonga-se o passo,

carreiro, ou mar
chão, ou no luar,

os teus passos
são guia,
quando me fecho
num verso...
que dizes de nostalgia!

(imagem: Elisabete da´Silva)

20 setembro 2009


Para que as asas

se afoitem no voo,

é preciso soprar

todas as cores...

e não desistir do vento!


dedico.te Duarte
(imagem:autor desconhecido)

12 setembro 2009

o lugar do olhar

Num olhar
de manto quente
na branda madrugada
onde sempre...
renasce
a dança
da terna alvorada...
eu me deito eterna
nesse leito
e jazo ávida
desse olhar...
que me trespassa
e rouba a força
de resistir!
(imagem: Teresa Robalo)

30 agosto 2009

outra vez



Quero outra vez
marcados no meu corpo
os desenhos da força
com que me possuis,
esculpidos de negro
como infinito breu,
sentidos de dentro
infundos de um azul
que me lembra o céu!
Quero outra vez
balbuciar magias
odes obscenas
suaves melodias
e ter-te entre despojos de amor,
mil prisões de abraços
num suspiro sal e lânguido,
no meu ouvido
como piar de gaivota
Parindo o mar.
Também eu em ti sou gaivota,
de beijos e vendavais...
poisada na bonança
Sempre que és...o meu cais!
(Imagem: rubens cavalcanti silva)

10 agosto 2009

ecos



Outrora o sonho voava

e tranquilamente poisava

nas mãos de quem o sonhava

agora o sonho não voa

simplesmente ecoa

no corpo do teu gemido

extenuado e bramido

no deleite das nossas bocas

E o meu ventre suado

Do cavalgar tresloucado

Faz do sonho a minha cama

Onde o teu corpo inflama

Na dança das minhas mãos!

(imagem: Fadul)

03 agosto 2009

nosso encanto...




Se te encanta
os enfeites do meu cabelo
são fios de ouro ou malmequeres
que te dou

Encanto meu
A linha dos teus lábios
Filigranas esculpidas em chama
Que inflama ao toque dos meus

Cedo-te o extasio desse encanto
Na perenidade dos nossos corpos nus
Uno, sem género
Ou anjos selvagens
Canibais da paixão!
(imagem: conceição ramos)

25 julho 2009

nao sei se te disse...


Não sei se te disse
da dilecção…
da fortaleza do teu ombro
quando me desmaia o medo e o soluço

Não sei se te disse
da cumplicidade...
nos revezes em voo rasante
que a vida teima em forjar
e que só no teu afago
sou capaz de suportar

Não sei se te disse
da sagacidade do meu peito
quando te guarda

Não sei se te disse
que um dia…
não me vais encontrar
porque ambígua será a hora de nós

Ainda nada te disse…
porque o meu corpo grita
tudo o que me cala a voz!

(imagem: kim molinero)



18 julho 2009



receio as máscaras que me inventam no rosto,
quero-o descoberto para sentir o vento...!

_____________________________________

No dia 25 de Julho, às 19.30 h, no Café In (Av. Brasília, Pavilhão Nascente nº 311 em Lisboa, sessão de lançamento de "Entre o Sono e o Sonho" - Antologia de Poesia Comtemporânea, volume II
Uma obra do Portal de Lisboa com edição da Chiado Editora

CONVIDO-TE!

11 julho 2009

longe


Estava tão perto a tua mão
O teu afago, a pele, o beijo
A enormidade do desejo
Mas com a ilusão matei
Não, não eras tu
Inventei…!
Inventei uma pele colada à minha
Um cheiro, uma brisa que vinha
Inventei-te!
O silêncio demorado
A rasgar os dias que pariam saudade
E tu vinhas, com as mãos cheias de vontade
Alagando o meu corpo, como se fosses rio
Agora, a reminiscência do tão perto
Que se aquietou tão longe
Mas inventei-te…!
(imagem: diamantino silva)

04 julho 2009

mágica cor



Nego
a chama apagada
o pássaro sem asa
o cais sem barco
nego
o indivisível
a metamorfose
nego
o ninho sem ovo
o céu sem azul
Nego
que o amor
não seja
a mágica cor
e a ténue dor

tu...!

27 junho 2009


Se tu inventasses

uma cor ou um sol

que se entranhasse

no âmago da escuridão

eu...por dentro de ti

seria o vento

se tu me soprasses!

20 junho 2009

Um tempo


Anseio-te colado a mim
no escorrer da seiva
das tuas melosas pétalas
navegantes

Querer-te no corpo
e na agitação do cansaço
do tempo tardio
da hora ingrata

Viver a ventura
do nosso abraço
descalço, caminhando no beijo

anseio beber-te...

Sonho no arranque da tua alma
colocada dentro de mim

Quero pintar-te
no meu regaço e ...ter-te!

13 junho 2009

ler-te...


E se lesse?

Se o teu olhar

se abrisse

como mar remoto

abrindo alas

em tempos épicos?

Eu haveria de ler

a poesia

que erradias...!
(imagem: rodrigo matos silva)

06 junho 2009

desvario...

No frenético aroma de paixão exaltada

Capitulei no desejo


como se um coreto musicasse cada compasso


da batida estupra no meu corpo
.

Deste-te na hora que te perdeste, e eu


lambi a tua boca e o teu ventre de espuma


embriagada pelo negro do chão que me deitou


e me rasgou a seda que me cobria.


Gemi em cada açoite ardente, de dor e de prazer


desenhando o teu deleite na lua mansa que caía


E quando quase a madrugada apareceu


e o fôlego se extinguiu no beijo da manhã


guardei na minha pele o sonho,


que em outro dia te darei!



(imagem: guilherme de faria)

29 maio 2009


Olha
como danço
com as papoilas
de pés molhados
na maré cheia...


olha
este meu ar
de vento
e de encanto
porque
em ti
consigo
sentir o mar!


(imagem: Karen Kilimnik)


23 maio 2009


Sem te tocar, onde há vida?
Que deleite, se não fores?
Que língua, sem o teu beijo?
Onde o lugar que me possa ver
Sem o sereno dizer da tua boca!
(imagem: Paula)

16 maio 2009

coincidências...

(rodrigo matos silva)

A coincidência das tuas mãos
no adeus
é hoje o afago expandido no meu rosto
A coincidência das tuas mãos
remotas num decalque inóspito
são hoje as mãos que sofregamente
me abreviam os seios
E a exasperada raiva mastigada
nos meus lábios
É hoje a tenuidade com que rodeias
O meu corpo
e me fecundas!

09 maio 2009



Miragem que me desperta
Do ser “eu”
Metamorfose
Que me arrasta
Para o infinito do céu
E eu…
Saciada da minha sede
Julgando seres tu
A minha fonte!

02 maio 2009

a mesma parte


Escarlate o gozo
Púrpura a sedução
E esse mar fogoso a minha sombra
Que da cor violeta me adormece.
Destino-me lua seduzindo o sol
É assim que amo, assim te pertenço
Despida, insolente, tua!
Sou a outra parte do estio
Aquele que queima, inflama
E em labareda te consome
E tu, a parte etérea do universo
Aquela que cega, aturde,
E vertiginosamente me faz perdida!



(imagem: Chagal)

26 abril 2009

Leve e tão...breve


Dança comigo
na música que me canta
extasia o meu rosto no teu
e dança…
Dança no desejo de morder o beijo
em cada instante de ternura
Faz-me leve e tão breve,
quanto o orgasmo dos teus olhos
me sentem mulher dentro de ti
Dança na carne quente, suada
dos compassos dilacerantes
que se fundem nesta dança.
E deste sentir perto o manto cálido
Que me reveste eroticamente
de passos fálicos e obscenos
eu danço continuamente em teus abraços
atordoando os dias e as noites
em cantatas de dança e seda
que me prostram na mágica cadência
do recomeço…!

18 abril 2009

serás...


Dou-te o mar

E com ele...

Dou-te o luar

E quando nascer a lua

Dou-te a maré

Do vento, nua

E assim serás

Num olhar…

Se fores capaz

O (a)mar…!



imagem:Mari Vilar

11 abril 2009

o meu reino


O céu caiu no teu rosto
Deixando um rasto de azul no teu olhar
Azul índigo…
Transbordante de ser mar
Nesse azul imutável,
adoço-me na tua pele
pecadora de aroma quente
E assim fico, ardendo…
lambuzando-me no teu mel.
No balbuciar perverso das palavras
condeno-me à luxúria de ser deusa
num corpo que é meu reino
onde te transgrido, excedo-te
para além dos mundos...
Porque inextinguível
é a noite que nos faz!

04 abril 2009

só, no meu corpo!

Hoje derramei os meus olhos
na lua branca
Tranquei a porta da sedução
e fiquei nua do teu calor.
Porque te escondeste
do meu corpo
e tiraste da minha boca
o gosto do teu suor?
Percorro os meus seios
com dedos de silêncio
e possuo-me com a raiva
que entras dentro de mim.
Nesse deleite de ausência,
sinto o teu beijo molhado
marcando de fogo
todos os cantos que me incendeiam
Dispo-me na luz que me excita
e reinvento-te,
lânguida...
e passiva de espera
Porque em vez de ti…
hoje sou eu que me beijo!
imagem (alexandre klevan)

28 março 2009

a tua chama...

(laura fergunson)

Deita o teu amor na minha cama
Espreguiça-te no sol que já ardeu
Nesta noite onde só a lua (e eu)
sabe o prazer eréctil da tua chama

Deita o teu beijo na minha boca
Quente e sôfrega de luar
Toca as tuas mãos no meu olhar
Deixa que o teu corpo me pense louca

O teu prazer extenuo que entre
Nessa orgíaca madrugada
Penetre fundo como onda alucinada
E deite a tua seiva no meu ventre

21 março 2009

água doce


A água de sal do meu corpo quando te amo

É o teu rio lavado de espuma

Corrente de miosótis e amarilis

As tuas mãos de abelha beija-flor

Rebuçados de carmim e mel

Onde a minha boca desespera

Em gemidos e laivos de ti!

14 março 2009

mutuamente...


Para ti
A minha cor púrpura da vida, deleite de te ter longínquo ou não, o teu toque

De ti
O raiar das estranhas noites onde as sílabas que os meus lábios desenham, rubram no espelho o vácuo da tua imagem

Para ti
Os meus seios de camélias amarelas, e a trova do meu corpo nu

De ti
Rasgo de vontade que te conheço, de segurar os meus cabelos e arrastá-los até onde o meu rosto se possa deitar

Para ti
A génese do amor mais profeta, na linguagem libertina do desejo e da entrega do teu olhar vencido

De ti
Os afectos obscenos que ondeiam a minha libido e o teu sorriso narcísico de perdão, quando me lanças na culpa, fazendo de mim pérfida mas sempre amante

Para ti
Não cesso o sonho de alarmos o cosmos de mãos dadas

De ti
A rendição, sem condição, para que te sorva no ímpeto da madrugada desvirginando o meu ventre

Para ti
O estremecer das palavras que as nossas bocas emudecem!


07 março 2009

alucinadamente

No meu lugar pinga o sangue
em dilúvio do meu delírio
mil palavras lanças, alucinadas
em alfabeto arábico
recortado em pó de areia.
Vem…
Alcança o meu corpo
Sequestrado…
Preso no estio do deserto
quando a miragem da tua sombra
se perdeu de mim e me cegou de luz
Resgata-me…
E com o teu corpo em fúria
Cavalga comigo nas dunas…
Até que se esgote o êxtase

do horizonte...!


(imagem:Gary Kaemmer)