17 setembro 2008

muro


Existe, ser feliz
Existe o amor
No meu olhar
Amor cristalino
Nos teus olhos
O meu pranto
No teu encanto
Gritos do meu canto
Canto que me revela
E que me esconde
Num muro recondido
Longe…
Meu toque fogueia
Acende, incendeia
Gelidamente amordaçado!

lavo as mãos

Lavo as minhas mãos
Lavo de orgulho
Como o mar lava de espuma
O casco de um navio
Lavo a áurea que me cerca
Que seca, tão ingenuamente
Resquícios de outra vida
Lavo as minhas mãos daí
E de todos os lugares
Faço eu… outros lugares
Lugares do meu olhar
E de tudo o que não me apraz
Lavo as minhas mãos

deserto

Deserto de palavras
Há muito evaporadas
Traçam no meu peito
Descarne…
Deserto que atravesso
Altiva, dilacerada
Fortificada por castelos
Que não se avistam
Luz de túnel
Murmurado pelo silêncio
Arrastando burburinho
Aumentando assim…
Assim…
A convicção

penas


Tiradas uma a uma
Esquecidas, mutiladas
As penas voam
A ave, não.
Fica estática, despida
Aguardando a primavera
Renovação da cor,
do ser
Para assim, planar num horizonte
Límpido, incessante, infinito
Plenamente...
Serena e viva!

depois de mim

Hoje é mágoa
Mas amanha talvez
O crepúsculo dos teus beijos
Me façam sentir diferente…
Hoje é mágoa
Pelo absurdo da descoberta
Do uso de mim
Profundo delírio
Hoje é mágoa
Porque nunca antes
Nem depois
Os meus olhos cegos viram
Hoje é mágoa
Pelo perdão que te dou
Por tudo o que acalentas
Fosse antes… desvario